O LOBISOMEM DE VIENNE (França) E SABINE BARING-GOULD


Uma noite de verão em Vienne, França, transformou-se em um dos episódios mais memoráveis da vida do autor e clérigo inglês Sabine Baring-Gould, quando ele encontrou uma comunidade apavorada pelo espectro do lobisomem. A história, contada pelo próprio Baring-Gould, revela um momento de tensão, folclore e bravura enquanto ele explorava um antigo dólmen (monumentos megalíticos tumulares coletivos construídos por humanos) druídico perto de Champigny.

Baring-Gould, conhecido por sua pesquisa sobre folclore e lendas, havia passado o dia examinando uma relíquia druídica, aventurando-se por uma caminhada de quase 16 km até um monumento extravagante de pedras cinzentas. O tempo havia passado rapidamente, e ele se viu desenhando e anotando detalhes do local enquanto o sol se punha. Quando terminou, já estava escuro e ele precisava voltar para a estalagem (hospedaria), mas a jornada pela planície e pelos pântanos seria longa e cansativa.

Ao chegar a uma vila próxima, esperava encontrar uma carroça para levá-lo de volta, mas foi recebido por uma comunidade preocupada com os perigos que a noite traria. O prefeito e o vigário local o advertiram sobre o Loup-Garoux, um lobisomem, que segundo os aldeões, havia sido visto recentemente na região por um rapaz chamado Picou. As histórias sobre um lobo demoníaco, do tamanho de um garrote, com olhos brilhantes como fogo fátuo, eram contadas com tom de medo e respeito. Os aldeões acreditavam que caminhar sozinho naquela noite seria um risco ao qual ninguém deveria se submeter.

O diálogo, registrado pelo próprio Baring-Gould, teria ocorrido aproximadamente desta forma:


PREFEITO: O senhor não poderá voltar hoje à noite pela planície, por causa do, do… - baixando o tom de voz - do Loup-Garoux (Lobisomem).

VIGÁRIO (Monsieur Le Curé): Ele disse que precisa voltar! Mas quem irá com ele?

PREFEITO: Ah, tá… Monsieur Le Curé. É muito fácil que alguém o acompanhe, mas pense na pessoa voltando sozinha. 

VIGÁRIO (Monsieur Le Curé): Então, duas pessoas podem ir com ele. Assim um pode cuidar do outro na volta.

CAMPONÊS 1: Picou disse que viu um lobisomem na semana passada. Ele estava na cerca viva de seu campo de trigo, e o sol já se pusera, e ele pensava em voltar para casa, quando ouvira um ruído do outro lado da cerca. Olhando por cima da cerca, lá estava o lobo, do tamanho de um garrote, contra o horizonte, mas com a língua para fora e os olhos brilhando como fogo fátuo. Meu Deus! Imagine se ando pelo marais esta noite. Afinal, o que dois homens podem fazer se forem atacados por aquele lobo diabólico?

CAMPONÊS 2: É como tentar a providência divina. Nenhum homem deve esperar a ajuda de Deus se desafia o perigo conscientemente. Não é isso, Monsieur Le Curé? Ouvi o senhor falar exatamente isso no púlpito, no primeiro domingo da Quaresma, pregando o evangelho. 

VÁRIOS CAMPONESES CONFIRMARAM COM A CABEÇA E MURMURARAM BAIXINHO!

PREFEITO: Se o Loup-Garoux fosse apenas um lobo, então, entenda, não teríamos porque temê-lo. Mas, Monsieur Le Curé, é um demônio, pior que um demônio, um demônio humano. É pior que um demônio humano, é um demônio-lupo-humano.


Baring-Gould ouviu pacientemente as histórias, as advertências e as súplicas para que ele não voltasse
pelo pântano escuro e melancólico. De início, ele aceitou a oferta do vigário para passar a noite ali, mas recusou posteriormente devido a um compromisso. Mesmo com todos os avisos, decidiu seguir sozinho. Pegou um forte pedaço de tronco para se proteger, no caso de um encontro inesperado com o lendário lobisomem.

A caminhada foi tensa e sombria, com o som dos sapos e das aves noturnas preenchendo o ar. As sombras das árvores e dos juncos criavam formas assustadoras na escuridão. No entanto, Baring-Gould completou a jornada sem encontrar o lobisomem, mas com uma impressão duradoura do quanto a crença nessas criaturas míticas ainda era forte no século XIX.

A experiência inspirou Baring-Gould a investigar mais a fundo a história e os hábitos dos lobisomens, resultando em seu livro "The Book of Were-Wolves," (1865) um estudo detalhado sobre essa lenda antiga. Embora ele nunca tenha visto um lobisomem pessoalmente, encontrou rastros e relatos que confirmaram a presença dessas histórias em várias culturas ao longo dos séculos. Como ele mesmo concluiu, o lobisomem pode ter desaparecido do mundo moderno, mas suas pegadas permanecem, convidando os curiosos a explorar as sombras do folclore e da imaginação humana.

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