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Escrito por
Márisson Fraga
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Na mitologia mesopotâmica, o submundo era um lugar sombrio e governado por duas figuras poderosas e temidas: Ereshkigal, a deusa da morte e soberana do reino dos mortos, e Nergal, o deus da guerra, pestilência e destruição. Esses dois deuses formaram um dos pares mais intrigantes da antiga Mesopotâmia, sendo ao mesmo tempo governantes temidos e protagonistas de uma das lendas mais fascinantes sobre poder e amor no mundo antigo.
Ereshkigal: A Rainha do Submundo
Ereshkigal era a deusa suprema do submundo, também conhecido como Kur ou Irkalla, um local sombrio para onde iam as almas dos mortos. Diferente de outras concepções de vida após a morte, o submundo mesopotâmico não era um lugar de punição ou recompensa, mas sim um destino inevitável e sombrio para todos. Lá, as almas dos mortos vagavam em um estado melancólico, sem grandes sofrimentos, mas também sem prazeres.
Como rainha do submundo, Ereshkigal era uma figura de autoridade absoluta. Ela governava sozinha, com um poder implacável e inalcançável, sendo a única capaz de decidir o destino das almas que chegavam ao seu reino. Ao contrário de sua irmã Inanna (ou Ishtar), que reinava sobre o amor e a fertilidade, Ereshkigal estava associada ao final da vida e à imobilidade. Sua posição como governante do submundo refletia a inevitabilidade da morte, um destino que nem mesmo os deuses podiam evitar.
Em termos de iconografia, Ereshkigal era frequentemente retratada como uma figura austera e poderosa. Em alguns mitos, ela é descrita como uma deusa bela e majestosa, mas também severa, com uma postura que reforça sua posição de autoridade no reino dos mortos.
Nergal: O Deus da Guerra e da Peste
Nergal, por sua vez, era o deus da guerra, destruição, peste e doença. Ele era uma divindade associada às forças violentas e destrutivas da natureza, como guerras, epidemias e calamidades. Originalmente, Nergal era adorado em cidades como Kutha, onde foi venerado como um deus temido, mas também como uma divindade capaz de trazer a destruição necessária para renovar a ordem. Sua natureza volátil e impiedosa o tornava tanto uma divindade temida quanto respeitada.
Nergal também tinha conexões com o submundo. Sua função não era apenas a de causar destruição na Terra, mas também a de lidar com a morte e a doença, tornando-o uma figura natural para associar ao domínio de Ereshkigal. Diferente de outros deuses mesopotâmicos, que muitas vezes tinham atributos benignos e malignos, Nergal era quase sempre uma figura destrutiva, uma força inevitável de caos.
O Mito de Ereshkigal e Nergal
A união entre Ereshkigal e Nergal é contada em um dos mitos mais interessantes da mitologia mesopotâmica, que explora tanto o amor quanto o poder no submundo.
De acordo com o mito, Ereshkigal enviou um emissário ao céu para participar de um grande banquete dos deuses, mas, por alguma razão, ela não pôde comparecer pessoalmente. Durante o evento, Nergal comete uma grande ofensa ao desrespeitar o emissário de Ereshkigal, o que a enfurece. Como punição, os deuses ordenam que Nergal desça ao submundo para se desculpar.
Quando Nergal chega ao reino de Ereshkigal, a tensão entre os dois é evidente, mas ao invés de apenas puni-lo, a deusa se apaixona por ele. Nergal, inicialmente resistente, também se sente atraído por Ereshkigal. Os dois acabam se unindo, e Nergal decide permanecer no submundo ao lado dela, tornando-se seu consorte e co-regente do reino dos mortos.
Essa história de amor tem um aspecto ambivalente: enquanto a união de Ereshkigal e Nergal traz equilíbrio ao submundo, também reforça o poder destrutivo que ambos representam. Nergal, o deus da guerra e da peste, agora compartilha o trono com a deusa da morte, formando um casal que governa as forças inevitáveis do fim da vida.
O Significado Mitológico
O relacionamento entre Ereshkigal e Nergal é profundamente simbólico. Ereshkigal, como governante absoluta do submundo, representa o lado inescapável e sombrio da existência humana: a morte. Já Nergal, como deus da guerra e da destruição, representa as forças caóticas que trazem a morte à vida. Juntos, eles simbolizam a dualidade entre a destruição e o destino final de todas as coisas.
Esse mito revela a maneira como os mesopotâmicos viam a morte não como uma punição, mas como uma parte natural da vida. A união de Ereshkigal e Nergal destaca o equilíbrio necessário entre o caos e a ordem, entre a vida e a morte, dentro da cosmovisão mesopotâmica.
Representações Culturais
Ereshkigal e Nergal eram figuras centrais na religião mesopotâmica, com templos dedicados a eles em várias cidades da Suméria, Acádia e Babilônia. Os antigos mesopotâmicos temiam e respeitavam ambos os deuses, realizando rituais para apaziguar suas forças destrutivas. Em particular, as pragas e epidemias eram muitas vezes atribuídas à ira de Nergal, e orações eram feitas para acalmar sua fúria.
Além disso, as oferendas ao submundo também eram comuns. Como governantes do reino dos mortos, Ereshkigal e Nergal eram invocados em rituais fúnebres para garantir que as almas dos falecidos encontrassem uma passagem segura para o submundo.
Conclusão
Ereshkigal e Nergal personificam a inevitabilidade da morte e da destruição na antiga Mesopotâmia, uma civilização profundamente consciente das forças que governavam o cosmos. Como figuras divinas associadas ao submundo e à destruição, seu mito reflete a complexa relação dos mesopotâmicos com a mortalidade e o equilíbrio entre vida e morte. Juntos, eles simbolizavam o poder implacável e inevitável que moldava a vida, governando o destino final de todos os seres.
A história de amor e poder entre Ereshkigal e Nergal não apenas fascinava o povo da Mesopotâmia, mas também servia como um lembrete de que, independentemente das forças que governavam a vida, a morte era uma parte essencial e inescapável do ciclo cósmico.
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Psicanalista, graduado em Ciências Contábeis, Estudante de Psicologia, Pós-Graduado em (1) Neuropsicologia; (2) Antropologia e (3) Mitologia Criativa. Escravizado por Livros. Expulso do Paraíso por buscar incansavelmente o Fruto do Conhecimento. Possui uma relação simbiótica com o medo!
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